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As plantas têm sistema imunitário e isso é importante para a saúde 

4/13/2016

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fotografia de Michael Matias
Sabia que as plantas têm um sistema imunitário? Até há pouco tempo, a comunidade científica também não o aceitava. Agora, é um dos temas mais competitivos na investigação em plantas.

Há 20 anos ainda ninguém falava sobre a imunidade nas plantas: ou não era conhecida ou, simplesmente, a comunidade científica não a aceitava como possível. “Neste momento deve ser uma das áreas mais competitivas em investigação de plantas na Europa”, disse ao Observador Cyril Zipfel. O investigador considera este tema um “assunto fascinante”, mas quando iniciou o seu percurso académico não poderia imaginar que ele próprio seria uma referência na área.
“A grande conquista da minha carreira foi a demonstração de que as plantas usam os mesmos recetores que a imunidade inata nos animais para vencer os micróbios”, contou o diretor do Laboratório Sainsbury, no Reino Unido. “Há 10 ou 20 anos isto não era aceite pela comunidade científica. O que temos feito nos últimos 10 ou 15 anos é demonstrar que este sistema é realmente antigo, que é conservado em todos os reinos, e que é realmente muito importante para permitir que os organismos se defendam.”

Cyril Zipfel explicou ao Observador que “a imunidade inata é muito antiga”, existindo, muito provavelmente, nos vários grupos de organismos, ainda que tenha evoluído de uma forma independente em cada um deles. A base desta imunidade inata, e a semelhança entre os vários grupos, é que os organismos são capazes de reconhecer uma molécula, uma célula, um organismo (ou parte dele), como estranhos e reagir de forma a defenderem-se.
“Foram precisos muitos anos e o trabalho de muitos laboratórios para convencer a comunidade científica de que a imunidade inata não só existia, como era importante”, referiu o investigador que agora lidera um grupo que trabalha sobretudo na base molecular da imunidade inata das plantas. “Agora está estabelecido, está em manuais escolares, é ensino nas universidades e tornou-se uma área de investigação muito ativa e competitiva.”
O investigador esteve em Portugal, a convite do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, da Universidade Nova de Lisboa, num semináriodirigido aos alunos do primeiro ano dos programas doutorais do instituto. “É sempre bom falar com os alunos”, referiu o professor. “Eram alunos do primeiro ano que ainda têm de escolher um projeto e o que querem fazer depois. Foi interessante discutir como eles como tomam estas decisões.” E o próprio Cyril Zipfel, como terá ele tomado a decisão de seguir esta área científica?
— Como decidiu que queria trabalhar com o sistema imunitário das plantas?
Na verdade, fiz um percurso um pouco estranho. Estudei Biologia geral em Estrasburgo, durante dois anos, mas depois quis mudar para ser um engenheiro florestal, como o meu avô e o meu tio. Fui para Nancy estudar Ecologia Florestal, mas odiei. O bom deste curso – e de todos os cursos em Nancy – é que, entre os dois anos, tínhamos de passar o verão no laboratório, a fazer um estágio. Felizmente, o laboratório para onde fui, tinha um projeto que era mais molecular. Gostei mesmo do projeto em que participei e durante o verão decidi que não queria voltar a estudar Ecologia Florestal, por isso pedi para trocar de curso. Normalmente, não é possível, mas eu tinha boas notas. Queria seguir uma via de estudos em Biologia Molecular, mas não tinha conhecimentos de base (os do primeiro ano). Disseram-me: “Podes fazê-lo, mas se falhares a culpa não é nossa”. Eu fiz e resultou.
Depois fui fazer um mestrado em Paris em Biologia Molecular Vegetal – este, sim, realmente especializado em plantas. [Em 2001,] entrei num programa de doutoramento internacional num instituto de biomedicina em Basileia, na Suíça. Éramos um grupo pequeno dedicado às plantas, mas era bom estar sempre exposto ao trabalho que se fazia em cancro ou imunologia. Comecei a trabalhar com imunidade das plantas no meu doutoramento e nunca mais parei. Um ou dois anos antes de começar o doutoramento, aquele laboratório tinha feito uma descoberta importante: identificaram um dos primeiros imunorrecetores em plantas. Depois esta área cresceu. Eu estava lá no momento certo.
Trabalhei com plantas por acaso. Nunca houve uma razão principal para trabalhar com plantas. A única coisa que sempre me motivou foi “sinalização”, em qualquer sistema. É fascinante ver como uma célula pode reconhecer um sinal e transmitir esta informação. Isto sempre me entusiasmou. Depois do doutoramento considerei continuar a investigar imunidade, mas deixar as plantas. Mas tive a oportunidade de ficar bem colocado em Inglaterra para fazer um pós-doutoramento em imunidade de plantas e depois fiquei com um lugar de coordenador de grupo de investigação no mesmo instituto.
— A imunidade inata das plantas pode ser comparada com a imunidade inata nos animais?
Conceptualmente é semelhante. Não interessa se é um inseto, um rato, um humano ou uma planta, o organismo tem de ter capacidade para identificar uma coisa que seja potencialmente perigosa, seja um micróbio ou algo do próprio organismo que normalmente não está presente. Todos os organismos têm imunidade inata, que é a forma mais comum de os organismos se defenderem. As plantas não têm imunidade adquirida [não produzem anticorpos, nem têm células de memória, como os humanos, por exemplo].
Quando nos cortamos há libertação de algumas moléculas que sinalizam que aconteceu algo “perigoso”. As plantas têm um sistema semelhante: em resposta a lesões também vão desencadear respostas que são semelhantes às do [nosso] sistema imune. Não são exatamente as mesmas proteínas, mas têm muitas semelhanças, usam mecanismos biomecânicos idênticos.
— E o que é exatamente esta imunidade inata nas plantas?
Não confere memória. O poder da imunidade adquirida é esse: se somos expostos a um micróbio quando somos crianças, vamos ser imunes a esse micróbio toda a vida. A imunidade inata é uma resposta desencadeada no momento. Se nos cortamos e uma bactéria entrar na ferida é reconhecida imediatamente e induz uma resposta.
Uma deteção local, naquele instante, é o que acontece nas plantas. Vai desencadear uma série de respostas imunes para restringir o crescimento do patogéneo. Às vezes não é suficiente para parar a infeção, mas vai reduzi-la. Mas não é adaptável. A bateria de recetores que temos está connosco desde que nascemos (assim como nas plantas, insetos ou outros invertebrados). Já a imunidade adquirida é moldada pelos micróbios a que somos expostos ao longo da vida.
A resposta inicial vem sempre, quer seja um patogéneo ou não. O mecanismo limita-se a dizer à planta que há algo que não lhe pertence, que lhe é estranho: “Há qualquer coisa perto de mim, que não sou eu, e que é potencialmente perigoso”.
A planta induz uma série de respostas imunitárias, que podemos medir. Algumas demoram alguns minutos, outras algumas horas. Um dos exemplos são os radicais de oxigénio, que são potencialmente tóxicos para os micróbios. A grande diferença entre as células vegetais e as células animais é que as células vegetais estão rodeadas por uma parede celular e caso estejam perante um patogéneo, podem reforçar esta parede, que é uma resposta local.
Também há produção de metabolitos secundários, compostos tóxicos ou antimicrobianos, que vão restringir o crescimento ou matar o patogéneo. Sabemos que tudo isto acontece, mas não sabemos qual o mecanismo mais importante, o que está realmente a afetar os patogéneos.
— A imunidade inata nas plantas é mediada por células ou por moléculas?
Por ambos. A grande diferença entre animais e plantas, em termos de sistema imunitário inato, é que as plantas não têm células móveis. Nós temos células móveis que são especializadas em imunidade, mas nas plantas as células são todas capazes de reconhecer micróbios. Não há células especializadas, à partida, todas as células são capazes de reconhecimento imunitário. Em todas as plantas.
Isto é suficiente para mediar o reconhecimento localmente: a célula percebe imediatamente um micróbio que se encontre por perto. Mas também há um sinal que percorre toda a planta, desde o ponto em que entrou em contacto com o micróbio, e que faz com que toda ela fique imune. A resposta imunitária não é só local, mas sistémica.
A resposta local é imediata, demora alguns milissegundos. A indução da resposta imunitária noutros pontos da plantas pode levar algumas horas, porque é preciso sintetizar os sinais, estes têm de ser transportados e têm de ser reconhecidos. É para isso que serve a resposta imunitária sistémica: se um perigo é detetado num local da planta, outro pronto está preparado para dar resposta. Mas mesmo que isto demore alguns dias, a resposta imunitária que é dada só será eficaz durante alguns dias, é temporária.
As células das plantas estão ligadas umas às outras por plasmodesmata [canais microscópicos na parede celular]. Esta é uma forma de comunicação entre células que permite a passagem dos sinais. Adicionalmente, os sinais podem ser produzidos no exterior da células e ser propagados pelo espaço intercelular [entre as células], onde se liga depois a recetores no exterior das células. Estes sinais também podem ser transportados pelo tecido vascular [vasos condutores], como acontece com o nosso sistema circulatório. A identidade dos sinais ainda é altamente controversa, ainda não se sabe bem o que está a ser transportado.
— A reação aos micróbios é a única forma de desencadear esta resposta imunitária?
Esta resposta é desencadeada por micróbios – bactérias ou fungos, por exemplo -, mas também com insetos. De facto, este sistema imunitário foi descoberto graças aos herbívoros. Quando eles começavam a comer uma folha, a resposta podia ser detetada noutro ponto da planta.
Isto acontece localmente, numa planta, mas em alguns casos há produção de elementos voláteis que vão “avisar” uma planta próxima que se deve proteger. As plantas são de facto bastante sofisticadas.
Há um trabalho de colegas alemães, que ainda não está publicado, que mostra que as plantas reconhecem até outras plantas como “estranhas”, como no caso das plantas parasitas que crescem sobre as outras. A planta que está a ser infestada consegue identificar a outra planta como perigosa usando o mesmo sistema molecular.
— Então a planta reage contra tudo o que lhe seja perigoso?
Não só contra patogéneos, mas contra micróbios em geral. Isto explica porque é que as doenças das plantas são tão raras na natureza – apenas um pequeno número de patogéneos evoluíram de forma a infetar uma planta específica. Por exemplo, um micróbio pode afetar um tomateiro, mas não a planta da batata que está ao lado. O patogéneo pode ter evoluído juntamente com o tomateiro de forma a bloquear o sistema imunitário desta planta e não de outra qualquer. Outro exemplo, um patogéneo de um pinheiro não é capaz de infetar um carvalho, mesmo que as duas árvores estejam próximas.
Quando temos um micróbio que não é visto como patogénico, provavelmente isso acontece porque o sistema consegue bloqueá-lo, logo ele não causa a doença. A doença é, de facto, a exceção. Apenas alguns poucos micróbios co-evoluíram o suficiente com determinadas espécies de plantas de forma a conseguir infetá-las.
— E nos casos em que as bactérias e os fungos mantém relações simbióticas com as simbióticas?
Muita da investigação, neste momento, centra-se nesta questão: como é que a planta distingue entre os micróbios patogénicos e os “amigos” (simbiontes)? O que sabemos é que os simbiontes – sejam fungos, como as micorrizas, ou bactérias do género Rhizobium – produzem sinais que são reconhecidos pelas plantas e que desencadeiam um programa simbiótico nas plantas, para estabelecer esta relação. Mas ao mesmo tempo, estes micróbios são reconhecidos pelo sistema imunitário.
Neste momento não sabemos se há uma função da estratégia simbiótica que suprime o sistema imunitário e/ou se o simbionte desenvolveu uma maneira se escapar ao reconhecimento do sistema imunitário. Mas sabemos que em alguns casos, o simbionte não é reconhecido pelo sistema imunitário. Como? É o que muitas pessoas querem descobrir. Será que não produzem as moléculas que são reconhecidas pelo sistema imunitário? Será que produzem estas moléculas, mas também produzem algo mais que bloqueia este reconhecimento? Ou o reconhecimento dos sinais simbióticos bloqueia o reconhecimento dos sinais pelo sistema imunitário? Atenção, que estas hipóteses não são mutuamente exclusivas.
— E outros organismos, como as bactérias, têm imunidade inata?
Há grupos que estão a começar a estudar como é que os fungos detetam as bactérias. O que é claro é que, mesmo os organismos unicelulares, têm alguma forma de se defenderem contra os agressores.
O sistema CRISP, que permitiu recentemente os avanços na engenharia genética, não foi descoberto com este objetivo de manipular os genes, foi descoberto num projeto de investigação sobre como é que as bactérias se defendem dos fagos [tipo de vírus que infeta apenas bactérias]. Descobriu-se que as bactérias conseguem detetar os ácidos nucleicos [a base do material genético] dos fagos, usá-los para reconhecer a presença do vírus e cortar o genoma do vírus em pedaços. Não é um mecanismo semelhante ao das plantas, mas é uma forma de imunidade, é uma forma da bactéria se defender.
Se pensarmos bem, os antibióticos existem para uma bactéria matar outra bactéria, para proteger o seu nicho ecológico. Também são uma forma de imunidade, uma forma de matar ou bloquear algo que não pertence ao organismo. É claro que é importante para qualquer organismo defender-se contra algo diferente. Se não for suficiente para bloquear uma infeção, pelo menos que seja suficiente para proteger o nicho ecológico. Não sei se os antibióticos são produzidos porque uma bactéria consegue sentir a presença da outra ou se está constantemente a produzi-lo, mas tudo isto são formas de imunidade.
— Existem plantas com um sistema imunitário mais forte do que outras?
É difícil comparar espécies diferentes de plantas, mas o que tem sido feito na agricultura há milhares de anos é selecionar diferentes variedades de plantas que podem ser mais resistentes a um ou outro patogéneo. O grande trabalho dos reprodutores de plantas é criar variedades que sejam mais resistentes a determinadas condições, por exemplo aproveitando uma característica de uma variedade selvagem que é naturalmente mais resistente a um determinado patogéneo. Não é necessariamente um sistema imunitário melhor, é a capacidade de reconhecer as diferentes moléculas do patogéneo, ter diferentes recetores.
— Quer dizer que este tipo de investigação pode trazer benefícios para a produção agrícola?
Trabalhamos com a indústria e com organizações públicas em todo o mundo para melhorar as resistências nas colheitas. Uma das formas é ajudar a encontrar variedades que sejam mais resistentes ou que sejam capazes de dar uma resposta imunitária mais forte e depois fornecer aos criadores marcadores moleculares para saberem o que será transferido nos cruzamentos clássicos. Isto funciona na perceção de novos recetores, mas também na força da resposta imunitária.
Outra abordagem, mais direta, é usar plantas transgénicas. Identificámos alguns recetores do sistema imunitário muito bons em algumas espécies, mas que não podem ser transferidos para outras plantas pelo cruzamento clássico porque já são muito distantes [em termos evolutivos]. Aqui usamos podemos usar uma abordagem transgénica que expresse este recetor do sistema imunitário de uma espécie noutra. Já mostrámos que isto funciona, que o recetor está a funcionar, que consegue reconhecer os micróbios e que a planta fica mais resistente à doença.
— O que sabemos sobre a imunidade nas plantas pode, de alguma forma, ser usado na saúde humana?
Não diretamente. Existem algumas ligações conceptuais entre a imunidade nas plantas e nos animais, mas os componentes em si mesmo não são conservados [não são idênticos]. Portanto, é pouco provável que um composto que seja identificado nas plantas, funcione em humanos.
Talvez possamos ligar a investigação diretamente caso haja alguns elementos conservados ou com uma função molecular conservada. Por exemplo, se identificarmos um químico que funcione como inibidor da planta ou dos patogéneos, então, talvez possamos usar o mesmo químico para combater a infeção em humanos.
Os compostos das plantas podem, eventualmente, ser usados como antimicrobianos em humanos, mas é preciso garantir que este composto gerado pela planta para combater um patogéneo associado a plantas também funciona contra os patogéneos associados a humanos. A verdade é que os patogéneos são tão específicos que não haverá muitos que possam infetar tanto plantas como humanos.
Outro ponto interessante, e que muitas pessoas tendem a esquecer, é que as plantas são, muitas vezes, um vetor para doenças transmitidas por alimentos, como quando ficamos com uma intoxicação alimentar devido a uma alface mal lavada. As mesmas técnicas que são usadas para tornar uma planta mais resistente, também podem ser usadas para tornar as plantas que comemos piores vetores para estas doenças. Por exemplo, este patogéneo da alface mal lavada, não infeta a planta, mas mantém-se presente porque é tolerado por esta. Se conseguirmos que a alface reconheça o patogéneo de forma eficaz – neste caso a bactériaEscherichia coli -, então vamos reduzir a incidência de doenças transmitidas por alimentos.
— Que projetos têm a decorrer neste momento no laboratório que coordena?
Muitos. Tenho um grupo grande. A nossa investigação centra-se na sinalização – é mesmo investigação fundamental. Mas não é específica para a imunidade, é mais geral: como é que uma célula percebe algo que se passa no exterior da célula e como é que isso leva à ativação de um sistema de sinalização e resposta. O meu trabalho é sobre uma classe de recetores, que se localizam na superfície das células, mas outra classe de recetores do sistema imunitário inato nas plantas está dentro das células.
No nosso caso, o sinal é o perigo representado pelos patogéneos e a resposta é imunitária. Grande parte do nosso trabalho é perceber como é que isto acontece a nível molecular, como é que os recetores reconhecem os ligandos [moléculas], como é que os recetores são ativados e uma vez ativados como é que se dá a resposta.
Outro dos nossos interesses é compreender como é que as células das plantas percebem todos estes sinais diferentes e conseguem dar uma resposta específica no interior da célula. Como é que as células são todas capazes de reconhecer micróbios, mas ao mesmo tempo continuam a crescer e a desenvolver-se, e como se garante que existem recursos suficientes para todas estas funções Promover a resposta imunitária tem custos energéticos para a planta, por isso queremos perceber como é que a planta escolhe entre defender-se ou crescer e em que condições escolhe crescer em vez de se defender, por exemplo. Não estamos apenas a registar se isto acontece ou não, mas a analisar como acontece a nível molecular. Há algumas plantas que optam pela morte celular localizada das células que estão infetadas para impedir que a infeção se espalhe. É uma forma extrema de resposta imunitária, mas é eficiente para controlar a infeção.
Existe ainda uma outra área de investigação. Sabemos, pelo genoma das plantas, que existem, potencialmente, muitos tipos de recetores do sistema imunitário, mas apenas conhecemos alguns. Por isso estamos a tentar encontrar cada vez mais recetores imunitários para podermos compreender melhor o sistema imune e perceber como podemos usar esta informação para aumentar a resistência em plantas de cultivo.
Encontramos, com frequência, moléculas que são características de um grande grupo de patogéneos. Uma das moléculas com a qual trabalhamos, e que é reconhecida pela planta, está presente em todas as bactérias. Se a planta a reconhecer sabe que tem uma bactéria próxima, mas não distingue entre diferentes bactérias. Outras moléculas são mais específicas, por exemplo de um grupo particular de bactérias. Neste momento não conhecemos o repertório de cada planta, mas acreditamos que seja muito grande.
— E onde espera que a investigação que realiza chegue nos próximos cinco anos?
Estamos cada vez mais envolvidos na compreensão dos mecanismos de sinalização. As descobertas nesta área vão significar, não só que o sistema imunitário está a funcionar, mas que globalmente todos estes tipos de recetores estão a funcionar nas plantas.
Esperamos conseguir ligar a forma como a planta reconhece um micróbio à forma como o mata. E isto deve manter-nos ocupados nos próximos dez anos. Adicionalmente, tentamos, cada vez mais, identificar estes recetores imunitários de forma a transferir a investigação para aplicação. E isto vai crescer nos próximos cinco ou dez anos.
Queremos transferir as descobertas básicas, para fazer uma diferença no mundo e melhorar a segurança alimentar, porque os patogéneos são uma das maiores ameaças à produção alimentar. Estas ameaças podem tornar-se mais graves devido às alterações climáticas – os patogéneos restritos a uma região podem avançar para outras regiões porque o clima se torna mais ameno -, os patogéneos estão a tornar-se mais resistentes a alguns químicos que costumavam ser eficazes e começa a existir uma escassez destes químicos, também ligado ao facto de muitos dos químicos mais eficazes terem sido proibidos.
Tudo junto e estamos a caminhar para uma catástrofe, porque temos cada vez menos maneiras de defender as colheitas e precisamos de mais alimentos. A população mundial está a crescer, e temos de encontrar soluções, que não passam necessariamente pelo uso de químicos – muitos são tóxicos e dispendiosos. Uma maneira de melhorar a resistência é usar a capacidade inata da planta para se defender e isto pode ser conseguido pelos cruzamentos clássicos ou por engenharia genética.

(In: http://observador.pt/especiais/as-plantas-sistema-imunitario-importante-saude/; 2016/04/10)
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Pequim entra pela primeira vez em alerta vermelho de poluição

12/8/2015

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A poluição do ar é mais de quinze vezes superior ao nível máximo recomendado. Governo recomenda o fecho de escolas, proibe a circulação de metade dos carros e actividades ao ar livre.
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O manto escuro, pesado e húmido de ar contaminado que se abateu há vários dias sobre Pequim fez com que o Governo chinês anunciasse na noite de segunda-feira um “alerta vermelho” de poluição, o primeiro na história da capital do país mais poluente do mundo. O alerta vai durar até ao meio-dia de quinta-feira, altura em que se espera que uma frente de ar frio dissipe parte do ar poluído na cidade.  

Até lá, só metade dos carros em Pequim podem circular – matrículas que acabem em números ímpar um dia, números par no outro –, o Governo recomenda o fecho das escolas sem bons sistemas de filtração de ar, limita o tempo de trabalho em locais de construção ao ar livre, as empresas devem dar horários mais flexíveis aos seus trabalhadores e todas as “grandes actividades ao ar livre” estão proibidas.
“Mesmo quando estou com a máscara sinto-me desconfortável e não tenho energia nenhuma”, disse Li Huiwen, residente em Pequim, à Associated Press. “Tem que se fazer o que se pode para nos protegermos.” O enviado da Al-Jazira na capital chinesa, Adrian Brown, complementa: “Consegue-se ver a poluição, consegue-se sentir-lhe o sabor.”
O método mais convencional para se chegar ao risco de saúde de uma dada poluição atmosférica faz-se pela medição de Partículas de Matéria 2.5 (PM2.5). Entre outros elementos, estas minúsculas partículas – 0,0025 milímetros, daí o seu nome – contêm vestígios de metais, combustão e compostos orgânicos suficientemente pequenos para entrarem no sistema respiratório ou circulação sanguínea. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um máximo de 25 microgramas de PM2.5 por metro cúbico para que o ar seja considerado saudável.
Às 19h desta terça-feira, hora local de Pequim, o sistema de medição da poluição atmosférica da embaixada dos Estados Unidos registava 379 microgramas de PM2.5 por metro cúbico. Mais de quinze vezes superior ao nível máximo. Um valor considerado “perigoso”, o quinto e mais grave patamar de risco de saúde na escala de poluição atmosférica. Algumas zonas da cidade chegavam aos 400 microgramas de PM2.5.
Mesmo assim, não é nada que se compare aos níveis de poluição de há uma semana, quando os níveis de poluição do ar em Pequim estavam a 40 vezes o máximo recomendado pela OMS – mais de 1000 microgramas de PM2.5 por metro cúbico de ar. Mas o Governo não decretou então o alerta vermelho para a capital, ou em ocasiões semelhantes nos últimos meses. A decisão de não o fazer foi recebida com alguns protestos, o que terá dado lugar ao alerta desta semana, como explica o correspondente da BBC em Pequim, John Sudworth.
“Porquê o vermelho agora? A falta de alertas vermelhos anteriores foi recebida com manifestações de protesto cada vez maiores. O que é que seria necessário, perguntavam as pessoas na semana passada, à medida que os seus filhos tentavam encontrar o caminho através da semiobscuridade em direcção às escolas ainda abertas, para o Governo agir?”
A decisão do Governo chinês em emitir um alerta vermelho para Pequim foi bem recebida por organizações ambientais e de protecção da saúde. “É um sinal bem-vindo de uma atitude diferente por parte do Governo de Pequim”, escreveu a Greenpeace em comunicado. “Significa, primeiro e acima de tudo, que as autoridades estão a encarar com muita seriedade os temas da qualidade do ar”, anunciou a OMS.
Mais de metade das medições à qualidade do ar em Pequim feitas pela embaixada dos Estados Unidos entre 2008 e 2015 indicam níveis “prejudiciais” ou “muito prejudicais” à saúde. A qualidade do ar na capital chinesa tem melhorado ligeiramente nos últimos meses, mas as ocasiões em que as medições de PM2.5 são consideradas aceitáveis acontecem ainda em menos de 5% das análises norte-americanas.
A principal fonte de energia na China é ainda o carvão (mais de 60%, segundo os números da BBC), apesar do grande investimento em fontes renováveis de energia dos últimos anos. O ar estanque e contaminado que se sente em Pequim é sobretudo provocado pelas fábricas utilizadoras de carvão na sua periferia, poeira dos locais de construção e as grandes emissões poluentes dos veículos.
A poluição do ar na cidade agravou-se nos últimos dias pela falta de vento e grande humidade. A geografia da cidade não ajuda: as montanhas a Norte e a Oeste aprisionam a poluição que vem das cidades industriais a Sul e Sudeste. 
http://www.publico.pt/mundo/noticia/pequim-entra-pela-primeira-vez-em-alerta-vermelho-de-poluicao-1716799?frm=ult​

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Larvas que se alimentam de plástico podem ajudar a reduzir resíduos do planeta

12/8/2015

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O verdadeiro avanço neste estudo é a descoberta de larvas que podem quebrar o que se acreditava ser um produto não-biodegradável, especialmente um tão onipresente e problemático para o nosso meio ambiente, como o poliestireno.
​Um estudo publicado na Environmental Science and Technology, foi o primeiro a apresentar provas concretas de uma incrível façanha.
A pesquisa descobriu que uma larva, conhecida como uma simples “larva de farinha” (da espécieTenebrio molitor), poderia ser um ajudante da natureza, combatendo os resíduos de plástico no planeta. Além de consumir isopor (poliestireno expandido), também se alimentam de outras versões do poliestireno, que se acumulam em aterros sanitários, e já foram previamente considerados não-biodegradáveis.
 Craig Criddle, professor de Stanford que supervisionou a investigação sobre estas larvas que consomem plásticos, disse, em um comunicado que a ciência pode surpreender a todos, muitas vezes. Para a realização do estudo, os cientistas alimentaram 100 larvas de farinha com cerca de 34 a 39 miligramas de poliestireno, o equivalente a um pedaço por dia. Com a ajuda de micróbios do intestino, as larvas converteram o plástico em dióxido de carbono e, em seguida, o restante foi excretado na forma de resíduos biodegradáveis.
 A maior surpresa dos cientistas foi o relatório de saúde das larvas. As larvas de farinha alimentadas pelos resíduos pareciam ser tão saudáveis quando aquelas que se alimentaram com uma dieta normal. Na verdade, seus resíduos excretados pareciam ser seguros o suficiente para serem usados como adubo em plantações, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar isso.
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 Se os investigadores puderem identificar os microrganismos exatos responsáveis ​​por esta incrível capacidade, eles poderão replicar o processo e criar enzimas digestivas mais eficientes e poderosas. "Nossos resultados têm aberto uma nova porta para resolver o problema de poluição de plástico no mundo", disse o engenheiro de pesquisa, Wei-Min Wu, da Universidade de Stanford, nos EUA.
 Apenas nos EUA, mais de 33 milhões de toneladas de plásticos são despejados em aterros sanitários anualmente, e menos de 10% desses resíduos são reciclados. O plástico contamina o solo e as águas, ameaça os ecossistemas marinhos, e o poliestireno pode demorar mais 150 anos para se decompor, de acordo com a Unicamp.
 
Agora, a equipe pretende analisar o que acontece quando as larvas são consumidas por outros animais, que, por sua vez, são comidos por criaturas ainda maiores, para ver efeito disso em cadeias alimentares. Eles também estão esperançosos de possam encontrar um equivalente marinho que possam ser os defensores dos oceanos da Terra, com capacidade de digerir o plástico que normalmente vão parar nas vísceras de aves marinhas, tartarugas e peixes.
 
http://www.jornalciencia.com/meio-ambiente/animais/5401-vermes-que-se-alimentam-de-plastico-podem-ajudar-a-reduzir-residuos-do-planeta.html
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Metade das espécies de árvores da Amazónia pode estar ameaçada

11/21/2015

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Metade de todas as espécies de árvores da região amazónica pode estar ameaçada, o que aumentaria em mais de um quinto o número de espécies de plantas em risco no mundo. A conclusão, publicada na revista Science Advances, é de um grupo com 158 investigadores de 21 países, liderados por Hans ter Steege, do Museu de História Natural de Leiden, na Holanda.
No estudo, os cientistas usaram dados de mais de 1.500 levantamentos sobre a floresta amazónica. Dessa forma, puderam determinar como o desmatamento tem afetado, desde 1900, o número de árvores de cerca de 15 mil espécies. A equipa também estimou os efeitos do desmatamento até 2050.
Os resultados foram, então, comparados com os critérios da Lista Vermelha da União Mundial para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), que faz um inventário de espécies em risco. O resultado mostra que de 36% a 57% de todas as espécies da região amazónica podem ser tidas, mundialmente, como ameaçadas. Entre elas, há espécies como a castanheira-do-Brasil, que chega a 50 metros de altura, e o cacaueiro.
Os pesquisadores ressaltam que os resultados não são o suficiente para a criação de uma Lista Vermelha completa das árvores da Amazônia. Para isso, cada uma das espécies deveria ser individualmente examinada pela IUCN. No entanto, as descobertas reforçaram a extensão e urgência dessa tarefa.
No Brasil, a cobertura florestal tem diminuído há décadas, mas existe pouca informação sobre a quantidade de espécies de árvores afetadas. "Não estamos dizendo que a situação na região amazónica se deteriorou de repente", explica o co-autor da pesquisa Nigel Pitman, do Museu Field de História Natural, em Chicago. "Fornecemos uma nova estimativa de como as árvores foram afetadas pelo desmatamento no passado e serão no futuro."

Áreas protegidas
Para o grupo, os resultados do estudo devem ser incluídos nas políticas de uso da terra e conservação da Amazónia. Isso porque áreas protegidas e territórios indígenas podem oferecer proteção às árvores mais ameaçadas, contanto que nessas áreas não haja mais desmatamento, afirmam os cientistas.
Muitas vezes, mesmo em áreas de conservação, as árvores são abatidas ilegalmente. Segundo o Greenpeace, as pessoas por trás disso não têm muito o que temer. Ainda assim, essas regiões podem fazer muito pela natureza, apontam os pesquisadores. Mais da metade da bacia amazônica está, de acordo com as suas informações, em áreas protegidas, onde uma boa quantidade das espécies mais ameaçadas cresce.
"Essa é uma boa notícia da Amazônia, como muito raramente se ouve", disse Ter Steege. "Nas últimas décadas, os países da região amazônica têm feito grandes progressos no que diz respeito a áreas protegidas e povos indígenas. Nosso estudo mostra que a biodiversidade se beneficiou muito disso."
Entretanto, barragens, mineração, incêndios e secas ainda representam grandes ameaças para as florestas da Amazónia, apontam os pesquisadores.
Efeito expandido
Como as condições e os problemas são semelhantes em áreas de florestas tropicais, os resultados podem, provavelmente, ser estendidos para os trópicos inteiros. Assim, até 40 mil árvores estariam ameaçadas em todo o mundo.
Aproximadamente um terço da superfície da Terra é coberta por florestas. Todos os anos, 13 milhões de hectares delas desaparecem – o equivalente, aproximadamente, à área da Grécia.
Essa perda de área florestada acontece quase que exclusivamente nos trópicos. A floresta amazônica, por exemplo, é convertida em plantações de soja e pastagens de gado, e a madeira, muitas vezes, é exportada.
Também é preocupante a destruição na Indonésia, onde, somente neste ano, cerca de 17 mil quilômetros quadrados de floresta tropical já foram queimados. Agricultores usam a técnica da coivara – derrubada da mata nativa e queima da vegetação – para plantação de dendezeiros.
                                                                                      Adaptado de dw.com - ‎20‎ de ‎novembro‎ de ‎2015

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September 17th, 2015

9/17/2015

 

Refletindo ....

Há uns dias li este artigo do Sr. Prof. António Galopim de Carvalho e considerei-o muito interessante. Decidi então publicá-lo aqui para permitir a quem lê esta página também possa refletir sobre o seu conteúdo.
GOSTAR DE SABER, DEVER CÍVICO DE ESTUDAR E AUTO-ESTIMA.

Toda a nossa vida é uma aprendizagem. Aprendemos cedo a levar a colher à boca, aprendemos a andar, a ler, a escrever e a recitar a tabuada, aprendemos a crescer, a viver em sociedade e, até, a envelhecer. Desde que nasce, a criança é uma “máquina de aprender”. Como nos animais superiores, brincar é, para esta etapa inicial do ser humano, a via natural de aprendizagem, quer por si próprio, observando o mundo à sua volta, quer através do que lhe seja ensinado.


Entra aqui o papel dos pais, mas todos sabemos como é comprovadamente baixo o nível cultural de uma grande parcela da população portuguesa e como é grande a sua iliteracia em muitos domínios dos conhecimentos ditos das ciências e das humanidades. Nesta realidade, cabe aos educadores do ensino pré-escolar e aos professores do básico (em especial) conduzir os infantis e juvenis entregues à sua responsabilidade a aprenderem a gostar de saber.

Terminada a licenciatura, em 1961, e sem qualquer preparação pedagógica para o ensino, comecei imediatamente a lecionar na antiga Secção de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, como segundo assistente, em aulas práticas. Nos últimos tempos de uma cristalografia essencialmente morfológica e geométrica, baseada nas medidas de ângulos entre as faces dos cristais, e no começo de uma outra cristalografia, dita estrutural, a penetrar no âmago da matéria cristalina e da física do estado sólido, fundamentada nos arranjos tridimensionais dos respetivos átomos, tive à minha responsabilidade as aulas práticas de Cristalografia e de Mineralogia, sob a orientação do titular da cadeira, então o Doutor Rodrigo Boto, um compêndio vivo nestas matérias. Com ele ganhei um gosto especial pelo estudo dos minerais, uma semente que guardei ao longo dos anos e que, mais tarde, deu os seus frutos nos vinte anos (1983-2003) em que tive a meu cargo o sector de Mineralogia e Geologia do Museu Nacional de História Natural da mesma Universidade. Só mais tarde, após o doutoramento, em 1968, me iniciei na regência de aulas teóricas. Os tempos eram outros e os jovens docentes eram preparados para prestar serviço na maioria das disciplinas da licenciatura. Da Cristalografia, Mineralogia e Petrologia, passando pela Geologia, Paleontologia e Geomorfologia, Estratigrafia e Geo-história, à Sedimentologia e Jazigos Minerais, quer em trabalhos práticos no laboratório e no campo, quer em aulas teóricas, os docentes dos anos 60 e 70 eram conduzidos a uma visão eclética da sua área científica.
Um tal ecletismo estava bem patente nas modalidades de doutoramento e de agregação de então que, para além das respetivas dissertações, incluíam provas teóricas e práticas incidindo sobre a totalidade das disciplinas da respetiva área. Como hoje, a par da investigação científica, o docente da minha geração criava a sua própria pedagogia. Definia os conteúdos das suas cadeiras, regia-as a seu modo e, no final do ano, examinava os seus próprios alunos.


Ao iniciar funções docentes e, como disse, sem qualquer formação pedagógica, era minha convicção, que confirmei ao longo dos anos, que aprender a gostar de saber, qualquer que seja o nível no sistema educacional, é uma das chaves que abre o caminho ao sucesso escolar. Os profissionais de ensino têm de ter artes (por vocação própria ou porque para tal foram ensinados) de levar os educandos, a gostarem das matérias que têm, por dever, transmitir-lhes, a terem prazer no convívio com ele e, assim, sentirem a escola como algo importante nas suas vidas. Mas há outras chaves para o referido sucesso a considerar, sobretudo, face aos alunos mais crescidos, nomeadamente, nos ensino secundário e universitário, que também a experiência me ensinou. Uma é conseguir inculcar nele a consciência do dever cívico de estudar, levando-os a tomarem consciência do privilégio que têm de usufruir da condição de estudante numa sociedade onde milhares de jovens permanecem privados dela. A outra chave, não menos importante, é estimular-lhe a autoestima. Fundamental no binómio ensino/aprendizagem, compete, em grande parte, ao docente conduzir o aluno nesses três sentidos. Quaisquer que sejam as matérias em causa ou os níveis de escolaridade e etário do discente, estas chaves fazem dele alguém que que tem gosto em aprender, que frequenta a escola com prazer, que encara o estudo como um dever de cidadania e tem brio na sua condição de estudante. Para tal, o professor tem de conseguir estabelecer com o aluno uma aproximação de confiança e afetividade mútuas que lhe permita atuar, com êxito, nestas vertentes. Foi assim, durante quarenta anos, a minha relação com os muitos milhares de alunos com quem troquei saberes e afetos.

Essa tripla condição, que está ausente num número infelizmente muito grande dos rapazes e raparigas das nossas escolas, pudemos imaginá-la, por exemplo, nos alunos ucranianos que, na viragem do século, aqui chegaram com os pais, aquando das primeiras vagas de imigrantes vindos de um país onde esses valores, devo concluir, são uma realidade.
Numa época em que os estudantes universitários faltavam muito às aulas teóricas, aulas que, em alguns casos, eram perfeitamente substituíveis pela correspondente sebenta (hoje, felizmente, em vias de desaparição), a grande maioria dos meus alunos assistia às minhas aulas do primeiro ao último dia. Isto porque o relacionamento que estabeleci com eles foi sempre de cordialidade, simpatia e afeto, pautado por respeito mutuo e pelo trabalho que fazíamos em conjunto. O facto de, frequentemente, sairmos para o campo, em trabalho inerente à nossa licenciatura, comendo o farnel em conjunto, sentados no chão, foi sempre um elemento potenciador dessa aproximação.


Por razões diversas, umas conhecidas, outras não, é frequente numa qualquer turma haver um, dois ou mais alunos menos motivados e visivelmente desinteressados das matérias em apresentação. Face a esses, logo identificados nas primeiras aulas, adotei uma estratégia que quase sempre se mostrou eficaz. Dava-lhes mais atenção, procurando estabelecer com eles um relacionamento de simpatia, que não era difícil transformar em amizade, e lhes tornava agradável o convívio comigo na sala de aula. Colocava-lhes problemas simples, ajudando-os, se necessário, a resolvê-los sem que se dessem conta dessa ajuda. Posto isto, elogiava-os na presença dos colegas, dava-lhes consideração e tratamento que acabava por os estimular a estudar e, assim, continuarem a merecer essa consideração. O resultado deste procedimento foi, quase sempre, ganharem autoestima e gosto pelas matérias em estudo que, como é por demais sabido, são sempre interessantes e, até, bonitas para quem as conhece.

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September 15th, 2015

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